Quando eu visitei o Glaciar Perito Moreno, entendi rapidamente porque ele é o principal atrativo turístico para quem está na cidade de El Calafate. Além da facilidade de acesso, já que pode ser alcançado com uma viagem curta por uma estrada totalmente asfaltada, sua grandiosidade chama a atenção e ali tem toda a estrutura para quem quer passar o dia e chegar bem próximo à geleira.

Mas quem quiser uma experiência diferenciada também tem diversas opções, como a navegação de barco, passeio de caiaque, travessia do lago para tocar no paredão e até mesmo caminhar sobre a geleira. Eu escolhi o Minitrekking – Trilha pelo glaciar Perito Moreno, que inclui a visita clássica nas passarelas e mirantes, a travessia de barco e a caminhada de uma hora sobre a geleira. Embora sejam revendidos por diversas agências de turismo, a responsável pelo passeio é a Hielo & Aventura.

Dá para usar um transporte próprio para ir até o Parque Nacional Los Glaciares, o que pode representar uma boa economia para quem está viajando em grupo e vai alugar um carro. A outra opção é pagar um pouco mais e o incluir o transfer da hospedagem, que é feito em um ônibus passando para buscar pessoas em diversos pontos da cidade. Cada um tem seus pontos positivos e negativos. Enquanto o carro garante mais liberdade, também exige planejamento. Já o transporte em grupo tem hora marcada e trajeto pré-definido, mas inclui informações dos guias ao longo do caminho que enriquecem o passeio.

Em qualquer caso, para entrar no parque é preciso pagar a entrada em dinheiro. Até tem a possibilidade de usar um cartão de débito ou crédito, mas o sinal de internet ali é bastante limitado, o que dificulta a transação e causa atrasos. Também é importante guardar o bilhete caso você vá fazer outros passeios pelo parque, pois há desconto de 50% na segunda entrada. Seja como for, o destino é o porto Bajo las Sombras, de onde parte a embarcação que faz a travessia para a outra margem do lago.

Nesse caso, estamos falando especificamente do Brazo Rico. Olhando no mapa, dá para entender bem como o glaciar avança sobre as águas e cria uma divisão entre os lagos, o que acaba causando um represamento que influencia sua profundidade. Como a maioria dos passeios de barco passa pelo Canal de los Témpanos, esse lago mais ao sul acaba ficando bem isolado.

A travessia dura, aproximadamente, vinte minutos de navegação até a costa oposta, percorrendo pouco mais de 4 km. Esse tempo é aproveitado pelos visitantes para tirar fotos e apreciar a paisagem. Eu fiz o passeio em um dia bem claro, e a visibilidade estava ótima, permitindo ver até mesmo as montanhas mais distantes. Além disso, a água reflete a cor do céu e fica com tons azulados.

À medida que chegamos mais perto, vamos tendo uma noção melhor da grandiosidade do glaciar. São cerca de dois quilômetros de paredão de gelo voltados para esse lado sul e a altura acima do nível da água chega a sessenta metros, o que corresponde a um prédio de vinte andares.

Ao desembarcar, fomos divididos em grupos de acordo com a língua falada pelo guia e a quantidade de pessoas. Daí passamos pela estrutura do refúgio para deixar nos armários as mochilas, roupas e quaisquer objetos que não sejam necessários durante a caminhada. Minha recomendação é levar somente o essencial para não carregar peso à toa.

Depois de deixar os pertences guardados e ir ao banheiro, caminhamos por cerca de 1 km pela costa do lago, que parece uma praia de água doce. É uma trilha feita em ritmo tranquilo, com algumas explicações sobre o Glaciar Perito Moreno e a glaciologia de um modo geral. Desde esse momento, já é necessário usar o capacete fornecido pela agência.

Quem opta por fazer o safari azul vai até o local onde começa o paredão e tem a oportunidade de ver de perto e tocar o gelo. Isso, por si só, já é uma experiência diferente de simplesmente ver o glaciar da margem oposta, onde ficam as passarelas de observação.

Mas o meu passeio incluía fazer uma breve trilha sobre o gelo, então fomos até a base do glaciar onde há uma estrutura onde paramos para colocar em nossos sapatos os grampos para andar sobre a neve. É como se fosse uma sola de metal amarrada por cima do seu próprio sapato. A única exigência é que seja um calçado fechado, mas eu recomendo usar tênis ou bota próprio para caminhada e à prova d’água para ter maior conforto e proteção.

Ali já damos alguns passos sobre a areia antes de entrar na geleira, o que permite se adaptar ao peso dos grampos e buscar o equilíbrio. Além disso, continuamos com os capacetes e precisamos usar luvas grossas, já que as mãos são usadas como apoio em caso de queda e o gelo é suficientemente duro e afiado para cortar a pele.

A próxima etapa é ouvir uma breve orientação sobre como pisar, a inclinação do corpo, cuidados necessários e coisas desse tipo. Eu confesso que há uma certa estranheza no começo, mas dá para se acostumar rapidamente. Além disso, os grupos podem ter no máximo vinte pessoas e são acompanhados por dois guias – um no começo e outro no final da fila. Isso garante a segurança de todos.

Eu estava com medo de sentir frio por estar sobre o gelo. Mas estava um dia bem aberto, com sol intenso e o esforço da caminhada, então fiquei bem aquecido. Além das roupas, acho importante passar protetor solar e levar óculos escuros, pois a luz refletida na neve é bastante intensa. Além disso, é essencial se manter hidratado. Eu estava com uma dessas mochilas que tem compartimento de água e facilitam muito para beber durante caminhadas.

Esse passeio acontece quase todos os meses do ano, ficando fechado somente no começo da temporada de inverno. Além disso, condições climáticas intensas podem ocasionar o cancelamento. Eu não tive nenhum problema, visto que fiz o passeio no mês de abril, ainda no começo do outono. O circuito tem uma dificuldade média.

A superfície do gelo é irregular, mas firme e segura. Além disso, o guia vai na frente determinando o caminho a ser percorrido e apontando as variadas formações características de um glaciar, como fendas profundas, sumidouros azuis, enormes seracs e lagoas de cor azul turquesa. Aliás, a cor do glaciar é realmente impressionante, mais ao vivo do que nos registros fotográficos.

Em diversos momentos, passamos por pontos mais altos em que era possível ter uma vista panorâmica não apenas do glaciar, mas também das montanhas no entorno e do lago. Ainda assim, o que torna esse passeio único é mesmo a experiência de uma caminhada sobre o gelo.

Passamos cerca de uma hora nessa parte da trilha, cujo trajeto muda ao longo dos anos porque o glaciar está em movimento constante, ainda que bem lento. Basicamente, funciona como um rio de gelo descendo vagarosamente pela montanha até encontrar o lago, onde vai se desprendendo em témpanos ou, como costumamos chamar, icebergs. Também aparecem pedaços menores, que se descongelam em contato com a água. Ao final, ainda ganhamos um drink com gelo tirado ali mesmo.

A mesma empresa faz a trilha com duração de quatro horas, que exige bem mais fisicamente dos visitantes e é conhecida como big ice. Nós vimos o grupo deles andando bem ao longe sobre a geleira. Acredito que deva ser uma experiência bem interessante, mas achei que o passeio mais rápido também atende bem a quem tem vontade de ver o glaciar mais de perto.

O retorno é feito com uma trilha por passarelas que atravessam o exuberante bosque andino patagônico. Ao todo, a caminhada dura cerca de três horas, sendo uma hora em cima do glaciar. De volta ao refúgio, todos podem pegar de volta os pertences deixados nos armários, tomar uma bebida quente e usar os banheiros enquanto esperam a reunião de todos os grupos. Embora tenha achado o passeio bem tranquilo, também aproveitei esse tempo para descansar um pouco e tirar mais algumas fotos na costa do lago.

Com tudo pronto, pegamos o barco para fazer a travessia em direção ao Puerto Bajo las Sombras, mais uma vez contemplando o enorme paredão da geleira. Já na outra costa, quem foi por conta própria de carro alugado pôde seguir com sua própria programação.

No meu caso, segui de ônibus até as passarelas do Glaciar Perito Moreno que são visitadas no passeio clássico. Vale muito a pena porque o ponto de vista é diferente e complementar à caminhada feita em cima da geleira. Basicamente, ficamos livres para explorar o local, indo a mirantes e percorrendo diferentes caminhos.

Além disso, ali tem toda a estrutura de restaurante, loja, banheiros e estacionamento. Ao todo, são cerca de dez horas de passeio ao todo, então aproveitei para comprar um sanduíche para complementar o que eu já havia levado de lanche. Depois, foi só encontrar o grupo no horário marcado para retornar a El Calafate.