Uma visita a El Calafate não está completa sem passar pelas geleiras que descem as encostas das Cordilheiras dos Andes e alimentam as águas do Lago Argentino. O principal passeio é a Excursão ao Glaciar Perito Moreno, considerado o principal atrativo da região tanto pela sua beleza natural quanto pela facilidade de acesso, já que pode ser alcançado pela estrada asfaltada.
Dá para alugar um carro e dirigir até o parque, o que pode representar uma grande economia, principalmente para quem está viajando em grupo. Além disso, você pode parar em outros pontos, como o Glaciarium, um museu sobre as geleiras da região. Quem está em modo econômico ainda pode contratar o transporte da rodoviária até o glaciar e fazer a visita por conta própria.
Entre as diversas opções, a mais procurada é o pacote clássico, que inclui o transfer a partir da hospedagem, visita guiada em diversos idiomas. Por lá, você tem a a opção de incluir passeio de barco por um custo adicional, com duração média de uma hora.
Esse pacote clássico oferece uma experiência completa, sem ter nenhum trabalho para fazer planejamentos. No horário marcado, a agência busca os visitantes na hospedagem. Eu estava no Hotel Kosten Aike, no centro da cidade. Dali é uma viagem longa de ônibus, com cerca de 80 km até o destino final, mas as paisagens bonitas e as explicações da guia fizeram passar mais rápido.
A primeira parada é feita para adquirir os ingressos do Parque Nacional Los Glaciares, criado em 1937 como área de preservação ambiental com foco nos campos de gelo, além da fauna e flora da Patagônia Argentina. O valor deve ser pago em dinheiro – até tem a possibilidade de usar um cartão de débito ou crédito, mas o sinal de internet ali é bastante limitado, o que dificulta a transação e atrasa o passeio. Também é importante guardar o bilhete caso você vá fazer outros passeios pelo parque, pois há desconto de 50% na segunda entrada.
Esse glaciar está entre dois braços na parte sul do Lago Argentino, um dos maiores do país, com superfície de 1415 km2 e profundidade média de 150 m, alcançando centenas de metros nos pontos mais profundos. Esse é o maior e mais austral lago da Patagônia Argentina. No caminho, fizemos uma rápida parada em uma área de apoio com banheiros e área para piquenique às margens do Brazo Rico. Uma das vantagens de alugar um carro e ir por conta própria é poder dedicar mais tempo a esses espaços alternativos, onde há poucos turistas.
Já no Mirante de Los Suspiros, todos desceram para tirar algumas fotos do glaciar visto de longe. É um bom ponto para ter uma vista superior da geleira e a noção de sua extensão entre as montanhas. O paredão tem mais de 5 km de largura e atinge uma altura de 60 metros, correspondendo a um prédio com vinte andares.
Mas é quando chegamos perto que temos a real dimensão da grandiosidade do Glaciar Perito Moreno, que recebeu esse nome em homenagem a Francisco Pascasio Moreno, pesquisador da região austral responsável por grandes descobertas e valorização da área. O ônibus parou no estacionamento superior e a guia nos explicou, junto ao mapa das passarelas, as opções de passeio. Ali também foram passadas as informações sobre o ponto e horário de encontro mais tarde, já que os visitantes ficam livres para explorar a área por conta própria.
As passarelas de observação se estendem ao longo da costa da montanha com trilhas de diferentes níveis de dificuldade. É recomendado dar uma estudada no mapa, que mostra o tempo previsto para percorrer cada caminho, e fazer seus planos. Também é importante observar a acessibilidade, já que alguns mirantes podem ser alcançados sem ter que passar pelas escadarias. Definidos seus objetivos, basta seguir as placas indicativas.
Também dá para saber se está indo no caminho certo observando as bolinhas pintadas abaixo do corrimão. Como eu estava com bastante disposição, resolvi começar percorrendo, ainda que parcialmente, o sendero de la costa, que é identificado com a cor azul e segue em direção ao norte.
Dali temos a visão do Canal de los Témpanos, onde ficam circulando embarcações que se aproximam bem do paredão. Além daquele que dura uma hora e é feito pela maioria das pessoas, há um passeio de barco que toma o dia inteiro e visita outros pontos do parque. Já aqueles que buscam uma experiência exclusiva são atendidos com um pacote VIP.
O legal do passeio de barco é que você pode presenciar mais de perto um desprendimento de gelo do paredão, sempre acompanhado com um barulho alto. Eles geram tanto pequenos pedaços quanto grandes témpanos ou, como costumamos chamar por aqui, icebergs. Devido à sua densidade, vemos somente cerca de 10% de seu volume na superfície, pois a maior parte fica embaixo d’água.
Outra opção que me pareceu bastante interessante foi o tour de caiaque que sai do porto que fica próximo ao estacionamento inferior. Ali também tem estrutura de banheiro, restaurante e um mirante voltado para o canal. Eu não cheguei até lá na minha caminhada pela passarela porque tinha um tempo limitado para circular pelo local e achei que ficaria um pouco corrido.
Daí voltei para conferir os mirantes mais visitados, onde o Glaciar Perito Moreno avança até alcançar a terra e represa o lago. Com a pressão da água, cria-se um arco de gelo, que cai depois de alguns anos. É preciso dar muita sorte para testemunhar o dia e hora exatos do fenômeno, que ocorre a cerca de 200 metros de distância das passarelas. De qualquer maneira, só de ver o paredão de perto já é um grande privilégio.
A geleira foi descoberta somente em 1879 por um navegador britânico que trabalhava na marinha chilena. Com o mapeamento da região e a assinatura do tratado que determinava a fronteira entre os países, ela ficou para a Argentina. Anos depois, recebeu o nome atual, em 1899.
Depois de tirar fotos nos mais diversos ângulos, subi em direção ao estacionamento para ir ao banheiro e fazer um lanche no restaurante Nativos de la Patagonia. A estrutura pode ser usada tanto por quem compra os itens vendidos no local quanto por aqueles que levam sua própria comida e bebida. Ali também fica uma loja de lembrancinhas de viagem.
Quem quiser uma experiência diferenciada, com mais aventura e contato direto com o glaciar, tem três opções: o safari azul é um passeio de barco e trilha que possibilita tocar o paredão de gelo; o minitrekking de uma hora inclui uma caminhada sobre o glaciar com equipamentos próprios para tornar a experiência mais segura; e a trilha com duração de quatro horas, que exige bem mais fisicamente dos visitantes, é conhecida como big ice.
Viajento 