Eu já estava com viagem marcada para a região norte do país quando um amigo me chamou para conhecer esse restaurante focado na comida paraense. O objetivo do empreendimento é dar visibilidade para a cultura de um povo que foi silenciado ao longo da história e continua tendo suas tradições, vivências e experiências desvalorizadas por boa parte da população brasileira.

De fato, o Flor de Jambu vai além da gastronomia e faz a produção de eventos nortistas, divulgam a cultura paraense através de conteúdo digital e presta consultoria para negócios paraenses que queiram atuar na região sudeste. Além disso, priorizam as mulheres, mães, pretos, indígenas, lgbtqiapn+ e nortistas na contratação para trabalhos, na escolha de fornecedores e na curadoria de indicações.
Ambiente ★★★☆☆
O restaurante é muito simples, funcionando em uma das lojas do Edifício Central. O prédio com galerias de lojas, escritórios e consultórios fica ao lado da Praça da Estação está começando a passar por um processo de readequação, como tem acontecido com outros espaços da cidade.

Pelo que pude perceber, ainda não há outros empreendimentos desse tipo ali, o que me causou uma sensação de abandono com todas as outras portas fechadas, já que fui em um fim de semana. De fato, não é um lugar bonito, mas estava tudo bem limpinho e organizado. As mesas foram dispostas pelos corredores e, para evitar bloquear a passagem, acomodavam poucas pessoas.

Apesar da simplicidade, dá para perceber o cuidado para criar um ambiente agradável e decorado com objetos, artesanatos, plantas e cores que remetem ao estado do Pará. Ali também são comercializados produtos que resgatam a memória afetiva e os sabores nortistas.
Serviço ★★★★☆
O restaurante do Flor de Jambu funciona em dias e horários limitados, além de fechar para a realização de alguns evento. Com isso, é necessário conferir com antecedência a página oficial e entrar em contato para fazer a reserva. Eu achei o estilo de trabalho diferente porque, além de garantir a mesa com o pagamento prévio de uma pequena quantia por pessoa, o que faz sentido porque alguns clientes simplesmente não aparecem como combinado, eles também pedem para já escolher o que será consumido. De início eu achei isso estranho e burocrático, mas entendi que é uma boa alternativa para garantir a disponibilidade de todos os itens, visto que os ingredientes vêm de uma região distante do país. Além disso, não é tão restritivo assim, pois quando eu cheguei lá acabei mudando algumas coisas e fui atendido com muita simpatia.
Preço ★★★☆☆
Uma parte boa de definir previamente os pedidos é ter acesso ao cardápio completo e com preços atualizados, o que é difícil de encontrar em muitos estabelecimentos. Isso permite ter uma boa ideia do quanto vai gastar. As informações podem ser encontradas na página oficial e no momento da reserva. Eu achei os preços justos pelo que é servido.
Comida ★★★★☆
O menu tem poucas opções, tanto de bebidas quanto de refeições, mas representa bem a gastronomia paraense. Algumas receitas são reproduzidas de forma bem tradicional, enquanto outras trazem adaptações. Mas uma coisa nunca muda, o uso de insumos genuinamente nortistas.

Eu comecei pedindo um drink de taperebá, uma fruta ao mesmo tempo doce e azedinha também conhecida como cajá, cajá-manga e outras variações desse nome. Como sua árvore gosta de climas quentes e úmidos, é amplamente cultivada na região amazônica. Além de ser consumida em sucos ou caipirinhas, o taperebá também é muito utilizado nas receitas de mousses, sorvetes, iogurtes, terrines e geléias. A bebida ainda vinha com uma florzinha de jambu, dando uma leve anestesiada na boca.

Falando nisso, pedi uma porção de pastel de jambu como entradinha. A principal característica dessa planta medicinal é deixar os lábios e a língua formigando devido às suas propriedades anestésicas. Nesse caso foram usadas as folhas, que podem ser preparadas de maneira similar à couve, cortada fininha e não tinham esse efeito de deixar a boca dormente. Eu não diria que tem um sabor especial, mas estava gostoso.

Meu prato principal foi o vatapá paraense, que se diferencia por usar o caldo de camarão seco batido no liquidificador. A versão baiana é engrossada com pão amanhecido e amendoim, sendo usada para rechear o acarajé. A receita parece ter chegado à África através de comerciantes árabes, povo que usava muitas especiarias, como a pimenta. No continente africano foi adaptada até chegar bem próximo à mistura que conhecemos hoje, com farinha de trigo, leite de coco, camarão seco, dendê, cheiro verde e outros temperos. Particularmente, eu não gosto de comer o camarão com casca, mas estava bem saboroso, acompanhado de arroz branco e farofa.

Também quis experimentar o açaí tradicional, que é realmente muito diferente do que estamos acostumados a comer por aqui por ter uma textura mais lisa, consistência líquida e nenhum doce. Eu pedi para comer separado, mas também pode ser servido junto com a comida. Vem apenas a cuia com o açaí acompanhado de farinha de tapioca, com grãos grandes e branquinhos. Achei interessante para conhecer, mas já estou acostumado à nossa versão, que parece mais um sorvete, e adicionei um pouco de açúcar.

Para finalizar, pedi o sorvete de carimbó. Na verdade, esse é o nome de uma dança de roda popular no Pará e outros estados da região. Em se tratando do sabor do sorvete, é uma mistura de castanha do Pará com cupuaçu. A fruta é uma prima do cacau, com gostinho azedo e agridoce, sendo muito usada para fazer sucos, doces e sobremesas, mas também aparece em receitas salgadas.
Resumo ★★★★☆
Além de servir uma comida saborosa, o Flor de Jambu permite conhecer e enaltecer a cultura regional do Pará através do artesanato, sugestões de passeios e outros trabalhos. Além disso, priorizam o trabalho de minorias e fazem campanhas de conscientização. Vale muito a pena conhecer e divulgar.