Eu não achei a cidade de Ushuaia particularmente bonita, mas gostei bastante quando peguei um dia de céu aberto e fiz a caminhada por toda a extensão do calçadão que segue junto a costa, com vista para o Canal Beagle. Uma boa parte dos atrativos se concentra próximo ao Puerto Turístico, de onde saem os passeios de barco.
É ali que fica o Centro de Información Turistica, onde dá para tirar dúvidas com os atendentes, pegar mapas e folhetos dos atrativos e usar carimbos temáticos em cartões postais ou no próprio passaporte. Ele também funciona como um ponto de apoio para os visitantes que queiram descansar as penas, acessar uma internet sem fio gratuitamente, usar os sanitários ou até mesmo fugir um pouquinho do frio. Do outro lado da Plaza Cívica fica a Antigua Casa de Gobierno, que conta com uma variedade de peças em exposição sobre o trabalho do legislativo e a história local.
Dessa mesma praça parte um tour panorâmico, desses feitos em um ônibus de dois andares com guia de áudio em diversos idiomas. É uma boa alternativa para ter um panorama geral da cidade de maneira confortável, já que alguns pontos ficam distantes entre si e seria preciso andar bastante. Estão inclusos a luxuosa Casa Beban, ao lado do Museo de la Ciudad; a Baía Golondrina, que fica perto do aeroporto; vistas panorâmicas próximas à Laguna del Diablo; as águas do Arroyo Buena Esperanza, que descem dos glaciares; e o bairro dos italianos, onde ficava o antigo aeroporto.
Mas a maioria das pessoas que passa por essa região tem como destino o Puerto Turistico. Ali estão concentrados os quiosques de diversas agências que fazem o passeio de barco com pinguinera, que dura boa parte do dia e vai até onde fica concentrada uma grande comunidade de pinguins. Há ainda um passeio de barco mais rápido, que se concentra no arquipélago da Isla Bridges, e outro para quem quer fazer uma trilha mais extensa pelo local, o passeio de iate.
Eles têm em comum boa parte dos atrativos, que a Isla de los Pájaros, onde ficam muitas aves; a Isla de los Lobos, com um monte de lobos-marinhos; e o Faro de les Éclaireurs, um farol vermelho e branco que é dos principais cartões postais da região. O diferencial do passeio que eu fiz é seguir até a distante Isla Martello, onde é possível ver pinguins de diferentes espécies. Também pode ser incluído o desembarque e uma caminhada entre os animais.
Ali no meio das agências também fica o Cartel del Fin del Mundo, um desses painéis que os turistas adoram tirar fotos para marcar o lugar da viagem. De um lado tem uma ilustração bonita e Ushuaia e aparece o porto ao fundo. Do outro lado, as pessoas pregaram vários adesivos e ficou uma coisa interessante também.
Falando nisso, achei muito agradável fazer uma caminhada no calçadão às margens do canal. Eu dei sorte e peguei alguns dias muito bonitos no outono de Ushuaia, então aproveitei para curtir a paisagem. Você define a distância que vai percorrer, mas eu andei cerca de dois quilômetros de ida, saindo da minha hospedagem no Polo Sur Apartamentos. Na volta, fui caminhando pela Avenida San Martín, onde se concentram muitas lojas e restaurantes.
Não acho que alguém vá se aventurar a nadar devido às baixas temperaturas, mas é importante destacar que há placas pela costa indicando que é proibido entrar na água. Embora tenha uma aparência limpinha, existem alguns pontos de desague que a tornam imprópria para banho.
Outro atrativo bem próximo ao porto é o Paseo de los Artesaneos. A primeira vez que passei por lá eu achei que não estava aberto, mas é que a porta fica sempre encostada para manter uma temperatura interna agradável. Basicamente, é um grande corredor com diversas lojinhas que vendem roupas, acessórios, objetos de decoração e outras coisas típicas da região. Eu não comprei nada, mas vale a pena dar uma passada, nem que seja apenas para conhecer.
A Avenida Maipú tem diversos restaurantes, alguns inclusive aparecem como os mais bem recomendados da cidade. Dali eu conheci apenas o El Viejo Marino, especializado em servir a famosa centolla, um caranguejo gigante servido inteiro para o cliente quebrar as patas e comer sua carne suave. Mas eu acabei pedindo mesmo uma merluza negra, também muito saborosa. Ali perto também fica o Museo del Fin del Mundo, que trata do passado da cidade.
Em dias de céu limpo dá para ver com clareza as montanhas que marcam o fim da Cordilheira dos Andes. Dá até para fazer algumas trilhas para alcançar mirantes, cascatas e lagos por essa área. Eu fiquei apenas observando de longe mesmo. A mais alta é o Monte Olívia, que chega a 1.326 metros e possui dois glaciares pequenos. Já o Cerro Cinco Hermanos, bem ao lado, chama a atenção por possuir cinco picos bem definidos a uma altitude máxima de 1.037 metros.
Eu caminhei até a Base Naval, criada em 1950. Eu não havia pensado nisso antes de fazer a viagem, mas é mesmo uma área que precisa de um porto de defesa e centro de abastecimento logístico por via marítima. Ali também tem um monumento dedicado ao Naufragio A.R.A. Fournier, que afundou em 1949 durante uma tempestade, tirando a vida de seu capitão e de 76 tripulantes. Já o Crucero Ara General Belgrano foi atacado pelos torpedos de um submarino inglês em 1982, matando 323 pessoas e ferindo muitas outras.
Mas o Saint Cristopher é que chama mais a atenção quando o assunto é navio. Ele pode ser visto caminhando para o outro lado do calçadão. Essa embarcação foi usada durante a Segunda Guerra Mundial pelos ingleses, batizado como HMS Justice. Após o conflito, foi comprada por um argentino, mas parou de navegar em 1954, após a falência da empresa. Encalhado na costa, tornou-se mais um cartão postal da cidade. Ele fica pertinho da Antigua Capilla, primeira igreja católica do povoado.
Quem estiver com ânimo de fazer a caminhada completa vai encontrar o Cartel Ushuaia. Esse conjunto de letras que forma o nome da cidade e fica iluminado a noite está perto da Plaza Islas Malvinas, que lembra a luta do país pelo domínio das ilhas, atualmente pertencentes ao governo britânico.
Esse é um bom ponto para acompanhar o pôr-do-sol. Eu fiz a viagem no começo de abril, já na estação de outono, e a grama do conjunto de praças que se encontra ao longo da costa não estava mais tão verdinha. Como eu estava hospedado de frente para o local, no Polo Sur Apartamentos, aproveitei o visual da janela do meu quarto mesmo.
Viajento 