Com o nome oficial de Ferrocarril Austral Fueguino, essa é uma linha de trem turístico em Ushuaia que faz parte do passeio pelo Parque Nacional Tierra del Fuego. Atualmente, é considerada a ferrovia mais ao sul em funcionamento no mundo. Eu confesso que fiquei na dúvida se valia a pena o investimento, mas gostei muito e recomendo. Movido a vapor, o trem passa por partes do parque que são inacessíveis de outra forma e conta um importante capítulo da história local.
Eu fiz a viagem na excursão ao Parque Nacional Terra do Fogo + Trem do Fim do Mundo, que reúne os principais atrativos do local. Já fiz um texto sobre a minha experiência no parque, mas resolvi postar separadamente sobre o trem porque ele tem particularidades bem interessantes.

O passeio também pode ser feito por conta própria, principalmente por quem opta por alugar um carro e quer explorar a área com mais calma. Para tanto, recomendo acessar a página oficial e ler todas as informações, além de adquirir o ingresso com antecedência para não perder tempo nas filas, já que se trata de um dos pontos turísticos mais concorridos da região.

A Estación Principal encontra-se a cerca de 7 km de distância do centro da cidade, podendo ser alcançada pela Ruta Nacional 3. O lugar por si só já é um charme, contanto com uma área interna decorada com bandeiras de diversos países, loja de lembrancinhas e opções gastronômicas para lanchar ou beber uma cerveja local.

Vale a pena chegar lá com certa antecedência para ver as exposições de fotografias, mapas e objetos antigos com calma. O projeto teve início em 1902 com a construção de um presídio em Ushuaia. A ideia era povoar o inóspito local, garantindo a posse das terras para a Argentina. Nessa época, também foi inaugurado um transporte com trilhos de madeira e uma locomotiva puxada por bois, cavalos e, em alguns casos, pelos próprios presos.

No final da década, ela foi substituída por uma ferrovia com trem a vapor, tornando-se o mais importante meio de transporte local. A essa altura, dispunha de duas locomotivas para o transporte dos reclusos, que saíam diariamente para extrair e transportar o material que seria usado em obras diversas. Em 1947, a prisão foi fechada por motivos humanitários. A linha continuou a operar por mais dois anos, quando um grande terremoto causou o deslizamento de terra sobre os trilhos e seu abandono por muitos anos.

Somente em 1994 uma empresa de turismo resolveu investir no retorno das atividades, dessa vez de cunho turístico. As réplicas das antigas locomotivas a vapor possuem elementos originais, mas com um sistema mais ecológico, o conforto de calefação, grandes janelas com vista para o parque e serviço de bordo. O trabalho de manutenção pode ser acompanhado através de vidros na própria estação.

O meu bilhete de classe turística, que possui cabines pequenas com seis assentos, já estava incluso no passeio e não precisei tomar mais nenhuma providência. Somente quatro lugares estavam sendo ocupados quando eu fiz esse passeio, o que é adequado porque o espaço é bem limitado. Também é possível adquirir um serviço premium, que tem embarque prioritário e assentos individuais separados por uma pequena mesa. Ali são servidas as refeições a bordo, que pode ser um café da manhã, almoço ou lanche da tarde.

A classe vip conta com um vagão exclusivo e menu completo com pratos típicos da região, incluindo a famosa centolla e o cordero fueguino. Junto ao guia, é realizada uma visita privada às oficinas para conhecer o trabalho realizado para que o transporte siga operante durante todos os dias do ano. Por fim, é possível atender de forma exclusiva a grupos fechados com horários reservados antecipadamente.

Em todos os casos, são distribuídos fones de ouvido para acompanhar a história do trem, sua ligação com a prisão, o desenvolvimento da cidade e informações diversas sobre parque. Além do português, também é possível ouvir a narração em espanhol, inglês, italiano, francês, alemão e chinês.

Por uma boa parte do trajeto, o trem segue o Río Pipo, formado pelas águas de degelo que descem pelas montanhas e vão desembocar no Canal Beagle. Ali destacam-se a travessia do Cañadon del Toro, os paredões do cânion no entorno do vale do rio. Um dos pontos de interesse é a Puente Quemado, que tem restos de madeira da antiga ponte embaixo da estrutura nova. Após atravessar o curso d’água, chega-se à primeira parada.

Originalmente, La Estación La Macarena era uma parada estratégica onde os prisioneiros reabasteciam de água os tanques da locomotiva, movida a vapor. Agora fica ali uma loja que vende lembrancinhas, além de pessoas fantasiadas de prisioneiros para quem quiser tirar fotos temáticas.

Eu me interessei mais em ver a Cascada de la Macarena. Subindo as passarelas, é possível ter uma boa vista da região e ver a nascente da cachoeira na Cadena Montañosa Le Martial. Mas é preciso estar atento ao apito dos guardas chamando a todos para voltar ao trem, que continuará o passeio depois de alguns minutos livres para explorar a área. Também é preciso memorizar o número do vagão e os assentos, que devem ser mantidos durante todo o passeio.

Uma vez a bordo, entra-se no Parque Nacional Tierra del Fuego em si. A área de preservação foi criada em 1960 e é a única do país que reune montanhas, bosque e costa marítima. Chamam bastante a atenção os vestígios do cotidiano dos presos que, por quase meio século, derrubaram árvores para a retirada de lenha. Além dos tocos em um extenso campo, é possível ver as fundações de uma antiga serraria.

A paisagem muda bastante ao longo das estações do ano. Eu fiz a viagem no começo do outono e a mistura das folhagens verdes, amarelas, laranjas e vermelhas, além da neve no alto das montanhas, criava um visual fantástico. Também é possível observar o ecossistema local com a fauna e a flora. As turfeiras, por exemplo, são um tipo de solo característico da região, formado por material orgânico e mineral compactado ao longo de séculos.

A parada final é na Estación Parque Nacional Tierra del Fuego, onde todos os passageiros desembarcam e seguem com o transporte da excursão contratada para continuar a visita pelo parque. Essa parte do trem também pode ser feita ao final do dia, de acordo com a programação de cada agência. Aqueles que fazem o trajeto de forma particular voltam à estação principal no mesmo trem.
