Ao sul da Argentina, esse parque é responsável pela preservação dos bosques patagônicos que se encontram no final da Cordilheira dos Andes. O nome Tierra del Fuego foi dado pelos exploradores europeus ao verem as fogueiras acendidas pelos habitantes originários da ilha. São quase 70 mil hectares de área de proteção, criada em 1960, mas somente cerca de 2.000 ha são abertos à visitação pública.
Quem deseja explorar o local de forma mais completa tem a opção de alugar um carro e ir por conta própria seguindo a Ruta Nacional 3. O mapa interativo acima mostra os principais pontos de interesse, bastando aproximar para ver com detalhes a área do parque. Também é permitido andar de bicicleta nas estradas, mas não existem ciclovias. Por fim, o parque conta com 40 km de trilhas com diferentes níveis de dificuldades, que podem ser percorridas por conta própria ou com guia.
Como eu estava só com mais uma pessoa, alugar um carro não ficaria tão barato. Além disso, tinha um tempo limitado em Ushuaia e achei melhor contratar um passeio completo para ter um panorama geral do atrativo. Escolhemos a excursão ao Parque Nacional Terra do Fogo + Trem do Fim do Mundo, que inclui traslado a partir da hospedagem e guia durante todo o dia.
Todas as informações necessárias para a visita, seja ela por conta própria ou guiada, podem ser encontradas na página oficial. Ali é possível acessar um mapa com os principais atrativos, trilhas e estruturas. Também vale a pena conferir os horários e preços de entrada atuais e o pagamento deve ser feito em dinheiro, preferencialmente trocado. Quando eu passei por lá, até tinham máquina de cartão, mas a conexão não é muito confiável. Uma dica: caso vá ao parque mais de uma vez, guarde o primeiro bilhete para ter desconto na segunda visita.
O Parque Nacional Tierra del Fuego pode ser visitado durante todo o ano, mas a temporada ideal vai de outubro a abril. Precipitações acontecem durante todo o ano, mas o acúmulo de neve nos meses mais frios, de maio a setembro, dificulta a caminhada e outras atividades. Independente da época, é importante usar um casaco impermeável e corta-ventos. É recomendado usar camadas de roupas e acessórios que possam ser vestidos e retirados de acordo com a necessidade, incluindo gorro, cachecol e luvas. Como as chuvas são comuns, fui também com calça e sapatos impermeáveis. Por fim, é sempre bom levar uma garrafa de água e lanches para passar o dia.
Como eu fui no começo do outono, as lengas, espécie de árvore mais comum na área, estavam com variações de cores verde, amarelo, laranja e vermelho. Também vi diversos pássaros, principalmente perto das águas do canal, e uma raposa vermelha. Eu achei interessante fazer o passeio guiado porque são passadas muitas informações sobre a fauna e a flora locais, com detalhes que podem passar despercebidos.
Nossa primeira parada foi no Correo del Fin del Mundo, a unidade postal mais ao sul do planeta. A estrutura atual foi inaugurada em 1997, já que antigamente o negócio ficava em uma ilha que fica a cerca de 1.5 km para dentro das águas do canal. Ali os navegantes e aventureiros paravam para enviar notícias a suas famílias, algo que caiu em desuso com os avanços tecnológicos da comunicação. Agora é mais um interesse turístico mesmo, sendo possível enviar cartões postais ou carimbar o próprio passaporte. Ele costuma ficar aberto somente nos meses mais quentes.
Mas a visita passa por lá durante todo o ano de qualquer maneira, tanto porque vale a pena ver a estrutura pelo lado de fora quanto porque ela fica às margens da Bahía Ensenada Zaratiegui. O nome faz referência a Gerardo Zaratiegui, comandante de um navio que atendia à região e naufragou durante uma violenta tempestade, levando à morte dele e de mais 37 tripulantes. A baía surgiu pela ação das geleiras que desceram pela Cordilheira dos Andes e possui 2,6 km de largura e 1,5 km comprimento. Ao lado oeste da praia podem ser observadas as rochas mais antigas de toda a ilha, com cerca de 200 milhões de anos. Nas águas abertas do Canal Beagle destacam-se a Ilha do Estorbo e a Ilha Redonda.
O bosque, a praia e as águas abrigam muitas espécies de aves, mamíferos marinhos, peixes e invertebrados. Entre esses últimos se destaca a centolla, um enorme caranguejo patagônico conhecido por seu sabor delicado que tornou-se um dos pratos típicos da gastronomia regional. As ilhas e costas também costumam ser frequentadas por leões-marinhos.
Dali também parte a senda costera, que possui diversos mirantes para ilhas chilenas e argentinas nos canais fueguinos e segue por 8 km até o Centro de Visitantes Alakush. Como a minha parada no local foi bem rápida, só pude percorrer um pouco do caminho para ter uma ideia do passeio. Mas é possível contratar um passeio de trilha pelo Parque Nacional Terra do Fogo, que inclui caminhadas em diferentes pontos e um piquenique.
A outra opção é explorar a área por conta própria. Eu achei as trilhas bem demarcadas e ainda há placas que contam a história local, além de detalhes sobre a fauna e flora. Destaque para os povos nativos que ocupavam essa área perto do canal em condições de clima extremo. Restos de cinzas, ossos, dentes e conchas de animais manipulados por humanos foram encontrados nas redondezas com uma antiguidade de até 1.700 anos atrás, mas estima-se que o local foi habitado por mais tempo.
Dali pegamos o veículo e partimos para a Bahía Lapataia, onde termina a Ruta Nacional 3, que corta boa parte do país com mais de três mil quilômetros de estrada, ligando o chamado fim do mundo à capital Buenos Aires. A baía possui 6 km de comprimento e uma largura máxima de 1,6 km. A caminhada por ali é controlada por passarelas com mirantes para as águas do canal e as montanhas em volta.
Há alguns milhares de anos, o Lago Acigami (antes chamado de Lago Roca) era ligado à baía, mas a diminuição do nível das águas e um represamento natural cortou a comunicação com o mar, transformando-o em um lago de água doce. Atualmente, ele descarrega seu excesso de água na Bahía de Lapataia através de um rio com dois braços. Nós pegamos novamente o ônibus e seguimos até o mirante do lago.
Outro passeio guiado interessante por essa área é a trilha e canoas na Terra do Fogo, que inclui uma caminhada de três horas pela senda costera, que parte ali da Bahía Ensenada, um almoço completo em um dos acampamentos do parque e o passeio de canoa nesse rio que vai do Lago Acigami até a Bahía Lapataia. No meu caso, foi apenas uma visita rápida para tirar fotos da paisagem.
Mas meu passeio não acabou ali, já que optei por adicionar a viagem pelo Tren del Fin del Mundo no pacote. Eu estava em dúvida se valeria a pena pagar para fazer esse transporte razoavelmente rápido, mas achei bem interessante tanto para conhecer a história quanto pelas vistas privilegiadas do interior do Parque Nacional Tierra del Fuego. O trajeto de sete quilômetros do Ferrocarril Austral Fueguino, como é chamado oficialmente, é feito pela locomotiva original toda restaurada e movida a vapor.
O veículo levava os prisioneiros de Ushuaia até uma ladeira do Monte Susana, onde eram extraídos os materiais para construções em que trabalhavam como parte de sua condenação. É possível ver o campo com as árvores cortadas e um guia em diversas línguas, incluindo o português, dá detalhes sobre o tema. No caminho, é feita a parada intermediária para ver uma pequena cachoeira. Depois, exploramos por um tempo a estação principal, que possui exposições e lojas, antes de partir de volta para a cidade.
Viajento 