O passeio pelos lagos é um dos mais procurados por quem visita Ushuaia, podendo ser feito em veículo normal ou com tração nas quatro rodas. O diferencial da excursão de 4×4 aos lagos Escondido e Fagnano é que o veículo sai da estrada principal, que é asfaltada, e passa por dentro da floresta, proporcionando uma experiência diferenciada.

Para quem gosta de se planejar com antecedência ou vai ter pouco tempo na cidade, eu recomendo fazer a reserva com antecedência, principalmente se for viajar na alta temporada dos meses de verão. Diversas empresas oferecem o serviço, com variações nas paradas usadas como ponto de apoio para fazer as refeições, que podem estar inclusas ou não. Também há diferenças no horário, já que o passeio pode acontecer por meio período ou durar o dia inteiro, dependendo da agência.

Eu fiz uma versão mais compacta, com duração de cinco horas. Após recolher cada participante em sua hospedagem, pegamos a Ruta 3 em direção ao Cerro Castor, um importante centro de esqui na subida pelas montanhas da Cordilheira dos Andes. A estrada já é um espetáculo à parte. Inclusive, essa região foi usada nas gravações do filme O Regresso, que deu o Oscar de melhor ator a Leonardo DiCaprio. A paisagem certamente muda muito ao longo das estações e eu fui no outono.

Nossa parada foi a cerca de 35 km da cidade, no Centro Invernal Haruwen. O espaço oferece diversas atividades durante o inverno, além de um festival de esculturas de gelo. No verão, também podem ser feitas trilhas. Como era abril, os agitados meses mais quentes e agitados já haviam ficado para trás. Não tinha nenhum cliente no Moto Cafe 3005, mas deu para sentir o clima do lugar com seu espaço amplo e uma infinidade de objetos de decoração.

Fizemos ali um rápido pit stop para ir ao banheiro e ainda deu para conferir a exposição de motocicletas antigas do Museo 3005, com entrada liberada. Para dar uma aquecida no corpo, também aproveitei para experimentar um shot do gin fabricado na 3005 Destillería. Eu não costumo tomar nada puro assim e achei muito forte, mas valeu a pena pela experiência, ainda mais sendo de graça.

Dali partimos em direção ao Paso Garibaldi, onde uma boa parte das pessoas param para tirar fotos do Lago Escondido, que recebe esse nome por estar em um vale profundo entre as montanhas. Como eu estava em um grupo com carro 4×4, pegamos a estrada de terra e seguimos até um mirante mais próximo e descemos contornando o lago. Algumas das atividades podem ser feitas nessa área, como caminhadas pelo bosque, pesca, navegação com caiaque e passeio a cavalo. No meu caso, foi só para tirar fotos mesmo e as cores de outono estavam incríveis.

Dali fomos descendo e rodeando o lago enquanto o guia explicava sobre a os castores, animais nativos de terras canadenses. Geralmente eles são mais tímidos durante o dia, mas nós demos sorte de vê-los, inclusive com um vindo caminhar bem próximo. Esses grandes roedores, muito valorizados pela sua pele, foram trazidos para região na década de 1940, só que seu pelo mudou com a alimentação e o clima, o que inviabilizou a comercialização. Como seu predadores naturais são os ursos, ausentes na Patagônia, o bicho tornou-se uma verdadeira praga, com uma população que já ultrapassa os cem mil.

O problema é que eles têm como instinto construir barragens, as chamadas castoreras. Para controlar o fluxo da água, eles derrubam muitas árvores e criam grandes clareiras, modificando a paisagem natural e afastando animais nativos de seus habitat. Para resolver a questão ambiental, os governos do Chile e da Argentina têm criado programas para incentivar a caça e comércio de sua pele, carne e cauda, mas esbarram em questões burocráticas e na qualidade do material.

O próximo destino foi o Lago Fagnano, que chama a atenção pela sua dimensão, sendo o terceiro maior do país, com uma superfície de 590 km². Com águas transparentes e muitas trutas e salmão, é um bom lugar para a prática da pesca. Ele se extende por uma grande área, cercado por bosques e montanhas.

É possível se hospedar por lá em estâncias como a Hostería Boutique Fuegos del Sur. Quem prefere um lugar com mais estrutura pode optar pela comunidade de Tolhuin, localizada na ponta leste do lago, a uns 50 km do ponto onde eu estava. É possível chegar lá seguindo pela Ruta 3, sempre asfaltada, e se hospedar em chalés e apartamentos.

No meu caso, que estava visitando a região apenas por alguns dias, o jeito foi me contentar com uma visita rápida ao lago, com direito a tirar várias fotos e fazer uma pausa para tomar vinho e comer pãozinho com uns frios antes de fazer todo o caminho de volta ao refúgio no centro invernal.

A próxima parada foi junto ao Río Larsiparsahk, que percorre um longo caminho pela zona sul da cordilheira. Esse lugar era mais selvagem, contando com um banheiro rudimentar. Também já estava fazendo mais frio, apesar de ser um dia bonito de outono. Posso imaginar como ficam as temperaturas durante o inverno.

Dei uma volta na área externa e logo entrei na estrutura onde nos esperavam com uma agradável música ao vivo, que incluiu clássicos da música popular brasileira e sucessos internacionais. A estrutura rústica, com móveis de madeira e piso de pedras soltas, eram muito aconchegante e, obviamente, contava com um bom aquecimento.

Ali foi preparada a carne asada, como é chamado o típico churrasco argentino, com boi, cordeiro, frango, linguiças, batatas rústicas e cebolas. Como acompanhamentos tínhamos arroz, pão, salada e molhos diversos. Tudo bem saboroso. Juntando a boa comida, as taças de vinho, a música e o ambiente, essa foi sem dúvida a refeição mais completa da viagem.

Depois de comer e beber à vontade, deu a hora de pegar a estrada e voltar para Ushuaia. Nesse caminho, passamos também pelo local onde começa a trilha na Laguna Esmeralda, mas eu não fiz nenhuma atividade que exigia grande esforço físico nessa parte da viagem porque estava acompanhado da família.