O Estreito de Beagle é um braço de mar entre os Oceanos Atlântico e Pacífico que separa algumas a Ilha Grande da Terra do Fogo, onde fica Ushuaia, das ilhas menores abaixo, marcando a fronteira entre a Argentina e o Chile no extremo sul do continente sul-americano. Algumas delas foram alvo de disputa entre os dois países, tendo a divisão sido concluída com um tratado em 1985. Aproximando um pouco o mapa interativo abaixo dá para entender bem a geografia do local.
O nome do estreito deve seu nome ao HMS Beagle, navio inglês que fez parte de duas missões pela região no início do século XIX. A segunda delas é particularmente famosa por ter levado a bordo ninguém menos que Charles Darwin, à época ainda um naturalista amador que revolucionaria as teorias sobre a evolução das espécies nas ciências biológicas.
É justamente por essas mesmas águas que é feito o passeio de barco pelo Canal Beagle com Ilha Martillo, um dos mais procurados pelos viajantes que visitam a região. Como é bastante disputado, principalmente nos meses de verão, eu recomendo que seja feita a reserva com antecedência pela internet.
As agências que fazem esse passeio se concentram no cais do Puerto Turístico. Outras operadoras também vendem o pacote do serviço prestado por essas agências, sendo necessário trocar o voucher pelo ingresso. Isso acarreta a formação de filas e é recomendado chegar com certa antecedência ao local. Além disso, geralmente não está incluso o traslado até o porto. Como eu fiquei hospedado no Polo Sur Apartamentos, que fica na região central, fui caminhando mesmo.
Meu passeio foi em um catamarã, embarcação com dois cascos paralelos que ajudam na estabilidade, evitando enjoos dos passageiros. Geralmente, há saídas em dois horários, por volta das 9h da manhã e das 15h, podendo haver cancelamentos ou mudanças de acordo com as condições climáticas. Eu preferi ir a tarde para ter o dia livre e pegar o pôr-do-sol na volta.
A dica é embarcar rápido, assim que liberarem a entrada. Isso porque o barco é organizado com três cadeiras próximas à janela em cada lado, mais quatro entre os corredores. Dá para ver bem de qualquer ponto, mas a vista é privilegiada para quem fica nas pontas. Como os assentos são mantidos durante toda a viagem, o melhor é entrar cedo e garantir o melhor lugar.
Na maior parte do tempo, você também pode circular livremente pelo barco, incluindo ir ao banheiro ou comprar comidas e bebidas na lanchonete. Dá para levar também algumas comidinhas e economizar um pouco de dinheiro, principalmente para aqueles que vão fazer o passeio mais longo, que chega a durar de 4 a 5 horas. Mas vale a pena comprar algo quente nos dias frios.
Na primeira parte do percurso, são passadas as informações sobre o passeio e o Canal Beagle. Os guias falam em um microfone em espanhol e inglês. Eu achei que deu para entender tranquilamente, mas pessoas com dificuldades nas duas línguas ainda podem aproveitar bem somente curtindo o visual. Só não gostei do serviço de fotografia a bordo, pelo que vi do resultado de quem contratou. Também achei muito caro, já que para ter acesso a todas as fotos, é preciso comprar um pendrive. A outra opção é imprimir apenas um ou dois registros.
Durante o trajeto, você pode circular pela área externa do catamarã e tirar fotos pacientemente por conta própria e um bom celular já permite fazer bons registros. O ponto negativo é que não tinha caixa de som para o fora, então quem ficava ali acabava perdendo as explicações. Eu fiz esse passeio em abril, no final da temporada de verão, e a temperatura já estava caindo. Mesmo nos meses mais quentes é bom levar agasalhos, já que o vento costuma ser gelado. Na parte interna estava bem quentinho e gostoso.
O primeiro ponto de interesse é a Isla de los Pájaros, onde se concentra uma grande quantidade de aves, como moleiros, albatrozes, patos, gansos e gaivotas. Algumas são bem parecidas e confundidas pelos turistas como pinguins, que só serão vistos bem distantes dali. Nessa ilha dos pássaros também havia alguns lobos-marinhos, mas eles se encontravam em abundância mesmo na Isla de los Lobos.
Nesses atrativos, o barco dá uma parada e todas as pessoas vão para fora a fim de ver melhor e tirar fotos. Os fotógrafos profissionais organizam uma fila daqueles que contrataram o serviço e ficam tentando convencer aos demais a aderirem. Mas não é preciso ter muita pressa porque a embarcação gira completamente para permitir uma boa visualização de todos os ângulos.
Logo depois vem o Faro Les Éclaireurs, principal cartão postal do passeio. A estrutura, que continua em funcionamento para orientar a navegação das embarcações, foi inaugurada em 1920 e chama a atenção pela intensa cor vermelha em contraste com o azul das águas. A lanterna está a vinte e dois metros de altura e sua luminosidade tem alcance de treze quilômetros, sendo abastecida por energia solar e controlada remotamente.
Essa primeira parte do itinerário é bem parecida para os diversos passeios de navegação por essas águas. A diferença está no destino final e na duração total. O mais simples é o passeio de barco pelo Canal Beagle, que dura cerca de duas horas e meia. Já o passeio de iate pelo Canal Beagle alcança quatro horas. Ambos fazem uma parada na Isla Bridges, que faz parte do mesmo arquipélago por onde passamos até aqui.
No meu caso, a escolha foi pelo passeio de barco pelo Canal Beagle com Ilha Martillo que segue por mais uns cinquenta quilômetros até chegar no local onde ficam as colônias de pinguins. O trajeto é demorado, mesmo com o catamarã indo em uma velocidade alta, mas vale a pena porque também vimos golfinhos e até mesmo baleias no caminho. Há também os pacotes que incluem descer e fazer uma caminhada para ver os animais mais de perto.
Também passamos por Puerto Williams, cidade e porto chileno com uma população que gira em torno de duas mil pessoas. Eu senti que os guias diminuem a importância do local para manter Ushuaia com o título de fim do mundo. Mas, pesquisando na internet, encontrei até algumas opções de hospedagem por lá. Por fim, uma pequena comunidade com algumas dezenas de pescadores chamada Puerto Toro fica ainda mais para baixo, sendo o local permanentemente habitado mais meridional do mundo.
Depois de contemplar a colônia de pinguins da Isla Martillo, começamos a viagem de volta para a cidade. Como estavam todos cansados e já começava a escurecer, muitos aproveitaram o balanço do barco para cochilar pelo longo trajeto até chegar ao Puerto Turístico. Desembarcamos por volta de oito da noite, horário ideal para seguir direto para um restaurante e jantar.
Viajento 