Ano: 2012
Autor: Elena Ferrante
Ao terminar de ler A amiga genial (2011), é impossível não continuar com livro seguinte, pois as obras que formam essa série funcionam como uma história única. A tetralogia é obra de Elena Ferrante, pseudônimo de alguém com identidade desconhecida, embora existam algumas teorias na internet. O anonimato, segundo entrevistas concedidas por escrito ou intermediadas por editoras, visa garantir uma maior liberdade de escrita e que os trabalhos sejam recebidos sem a interferência de uma imagem pessoal.
Eu comecei a ler a chamada série napolitana quando estava programando a minha viagem para a Itália e, de fato, as descrições de diferentes cidades, costumes e transformações sociais ao longo de décadas só fez aumentar meu interesse pelo pais. O conjunto conta com os títulos: A amiga genial (2011); História do novo sobrenome (2012); História de quem foge e quem fica (2013); e História da menina perdida (2014) – considerando as datas da primeira publicação no país de origem.
O segundo deles, A história do novo sobrenome, segue os relatos feitos por Elena Greco (Lenu) sobre si mesma, sua melhor amiga Raffaella Cerullo (Lila) e as pessoas que passam pelas suas vidas. A trama se passa na década de 1960, quando as personagens estão saindo da adolescência e enfrentam os desafios da vida adulta, compreendendo o período entre os 16 e os 25 anos de idade.

Mais uma vez, a maior parte da trama se passa em Nápoles, com suas divisões e subdivisões sociais. Se o centro da cidade aparece como sinônimo de maior desenvolvimento e prestígio, o bairro afastado onde moram os operários é atrasado e pobre. Mas, mesmo nesse ambiente mais humilde, existem diferentes níveis, com os donos de negócios e agiotas exercendo poder sobre os demais, que tentam melhorar de vida.
Outro grande tema é o papel da mulher na sociedade tradicional e machista do país que, se hoje em dia ainda é considerado retrógrado, imagine há décadas atrás. As breves cenas em Amalfi, mostram como as aparências enganam, com o clima romântico do lugar paradisíaco sendo rapidamente substituído por um pesadelo na vida privada. As imagens da hospedagem foram gravadas no Grand Hotel Excelsior Vittoria, que fica em Sorrento.

Protagonizada por personagens femininas, a trama toca diversos problemas que são enfrentados ainda nos dias atuais, como a violência doméstica e o tratamento da esposa como uma propriedade do marido, destinada a servir e gerar filhos enquanto o homem toma todas as decisões e tem liberdade para ter casos extraconjugais.

Do ponto de vista narrativo, o drama principal continua sendo a conturbada relação entre as duas amigas. Na Ilha de Íschia, elas exploram a sexualidade e o interesse por rapazes, enquanto surgem cada vez mais conflitos no melhor estilo amigas e rivais. Embora de maneira velada, elas competem em todos os aspectos da vida, já que as comparações sobre quem é mais bem sucedida nos relacionamentos, na vida profissional e nas capacidades pessoais são constantes.

A história do novo sobrenome nos leva também, pela primeira vez, a um cenário mais distante. Trata-se da cidade de Pisa que, em contraste com Nápoles, mostra-se bem mais moderna e efervescente de ideias, mas também uma certa sensação de superioridade. Isso pode ser percebido tanto pelo preconceito com a falta de dinheiro e o sotaque napolitano, quanto pelas discussões políticas no meio acadêmico, que parecem meio deslocados com o que está acontecendo nas ruas.

Mais uma vez, assim que terminei de ler o livro, fui assistir à adaptação para a série televisiva na HBO, que pode ser encontrada com o título My brilliant friend. Vi a segunda temporada depois de ter viajado para o país e achei interessante porque eu reconhecia facilmente alguns dos cenários. Isso aconteceu mesmo sendo retratada outra época e a obra focar mais na vida real dos moradores e não em pontos turísticos.

Por fim, continuo a leitura dos demais livros da série napolitana, que funcionam mesmo como um sequência natural da vida das protagonistas, dessa vez focando na vida adulta e no processo de envelhecimento. Além disso, sempre há destaque para questões mais abrangentes, como a sociedade e questões políticas, que me atraem bastante.


