Título original: Fire of love
Ano: 2022
Direção: Sara Dosa
Esse documentário independente ganhou destaque para o público geral ao ser selecionado em diversos festivais de cinema e premiações. Eu mesmo assisti pelo serviço de streaming Disney+ quando ele apareceu na lista do Oscar – todo ano faço uma maratona com os filmes indicados. A obra foca na vida e carreira de um casal de vulcanólogos, como são chamados os profissionais que estudam o comportamento e fenômenos relacionados aos vulcões.

Trata-se de Katia Krafft,com formação em física e geoquímica, e Maurice Krafft, na área da geologia. Os dois se conheceram ainda como estudantes na Université de Strasbourg, na França. Após o casamento, em 1970, passaram a lua de mel na pequena ilha italiana de Stromboli, onde fica o vulcão mais ativo do continente europeu. Ali mesmo fizeram diversos registros e identificaram o interesse das pessoas sobre o assunto.

Desde então, passaram a percorrer o mundo para estudar mais profundamente o tema, para o qual dedicaram suas vidas. Em muitas ocasiões, eles eram os primeiros a chegar a um vulcão para registrar os eventos, o que os tornou bastante famosos. As medições, leituras de gases e coleta de amostras, além de registros em imagem e som ao longo de décadas, foram usados para estudos na área e produção de livros.

É curioso pensar na motivação para se arriscar nesse tipo de empreendimento, seja por trabalho ou lazer. A questão é levantada no documentário, que mostra bem a vida pessoal do casal. É interessante ver como isso afetou diversas decisões práticas, como a de não ter filhos. Também ganha destaque suas personalidades conflitantes e complementares: enquanto ela é responsável e observadora, ele é mais aventureiro e agitado.

Mas o filme não se prende a questões pessoais e serve, também, para entender melhor as particularidades de diferentes tipos de erupções, que podem apresentar escorrimento de lava, liberação de gases e arremesso de rochas, além de causar chuva ácida e nuvens de cinzas. Tudo isso afeta o ecossistema local e até mesmo pontos distantes, podendo trazer maior fertilidade para o solo.

Também se desenvolveu um trabalho de conscientização dos riscos envolvidos em manter comunidades nas áreas próximas. Não são poucas as histórias de destruição, incluindo as famosas cidades italianas de Pompéia e Ercolano, que tive a oportunidade de visitar na Itália. As imagens registradas pelo casal chegaram a ser usadas para convencer autoridades locais a criar planos de evacuação, por exemplo.

Como o título brasileiro indica, a história acaba quando ambos perdem a vida na erupção do Monte Unzen, no Japão, no ano de 1991. Eles sabiam do risco que corriam e discutiam abertamente sobre o tema. Mas o evento parece ter pegado mesmo os profissionais mais experientes de surpresa, matando ao todo 37 pessoas.

Embora a tragédia chame bastante a atenção, o grande mérito da obra para mim acaba sendo a ampliação da discussão com o uso do rico material fotográfico e de vídeo produzido pelo casal para criar um documentário ao mesmo tempo informativo e envolvente. O resultado agrada tanto quem gosta de dramas pessoais quanto quem se interessa por temas mais globais, como a preservação da natureza e decisões políticas.