Há muito tempo eu queria conhecer Manaus e reservar alguns dias para uma imersão na Floresta Amazônica. Quando chegou o momento de fechar a viagem, comecei a pesquisar um pouco mais sobre a região e acabei descobrindo a cidade de Presidente Figueiredo, que fica a cerca de duas horas de viagem da capital.
A princípio, pensei em fazer a excursão de um dia com coleta no hotel, transporte até a cidade, visita à caverna, gruta e cachoeira, almoço incluso e retorno. É uma boa opção para quem tem pouco tempo, mas fica um tanto cansativo por passar muito tempo na estrada. Além disso, vale a pena dedicar alguns dias para conhecer outros atrativos da área.
Por isso, recomendo reservar uma hospedagem na cidade ou nas proximidades. Em razão do turismo ecológico, a região tem se destacado como um novo destino e ganhado mais estrutura para receber os visitantes, embora continue com opções mais simples. Na região central, um dos mais procurados é o Hostel da Milla. Já quem busca mais contato com a natureza durante a estadia pode optar pela Pousada Paraíso do Calango Azul.
Embora seja possível contratar o serviço de um guia, que vai saber orientar quais os melhores atrativos para visitar dependendo da estação do ano e orientar a caminhada nas trilhas, também vale a pena reservar um carro e fazer tudo por conta própria. Isso permite economia e mais liberdade na programação, que é mais o meu estilo de viagem. No mapa interativo acima eu marquei os pontos que visitei no mês de agosto e achei o deslocamento bem tranquilo.
Na maioria dos casos, era preciso pagar uma pequena taxa na entrada, visto que as cachoeiras e outros atrativos ficam em propriedades privadas ou de preservação ambiental. No caso da Caverna Refúgio do Maroaga, a visita em si também precisa ser feita com o acompanhamento de um guia, que pode ser contratado na entrada. Também existem regras como usar calçado fechado, pois é feita uma caminhada pela selva.
Como são passeios feitos na natureza, eu recomendo dar uma pesquisada prévia para saber o que te espera. Em alguns casos, é possível chegar até o destino final de carro. Em outros, tem que percorrer trilhas de diferentes níveis de dificuldades, podendo ser longas e exigirem um certo preparo físico. Também cito a necessidade de levar água e lanche, usar roupas leves devido ao calor intenso na região, abusar do protetor solar e passar repelente de mosquitos.
Outro ponto visitado nesse passeio é a Gruta da Judeia, famosa pelos seus altos paredões de arenito. Do teto, desce uma pequena queda d’água cuja força varia dependendo da época do ano. Eu passei pelo local durante a estação seca, mas ainda assim foi possível tomar um banho na piscina natural que se forma sobre a areia fina.
A Cachoeira da Pedra Furada tem um acesso mais fácil e também lembra uma praia de águas calmas. Como a profundidade é pequena, é um bom espaço para quem não sabe nadar. A entrada fica a cerca de 55 km do centro da cidade, então acaba tendo menos visitantes, e é um bom lugar para curtir boa parte do dia e relaxar.
Ali perto ficam as Piscinas Naturais do Mutum, que se popularizaram após as imagens viralizarem nas redes sociais. De fato, elas possuem um visual único devido aos enormes buracos redondos formados naturalmente no leito do rio, funcionando como banheiras de hidromassagem. Eles chegam a ter sete metros de profundidade, mas não puxam para baixo porque são fechados no fundo. Eles são melhor visualizados e só dá para entrar nos meses de seca, a partir de agosto, quando diminui a vazão do rio.
A Cachoeira do Mutum, que fica logo depois das piscinas naturais, tem correnteza forte e não é recomendado nadar nas partes mais profundas, estando devidamente sinalizada. Ainda assim, possui uma ampla área rasa ideal para o banho. É possível contornar o poço pelo lado direito e chegar até a parte de trás da queda, onde dá para sentar e ficar sentindo a força da água.
Quem visita essa área costuma aproveitar para ir até a Represa de Balbina, formada com a construção de uma usina hidrelétrica inaugurada no final da década de 1980. Embora a grande lagoa tenha sua beleza, a obra foi bastante criticada por seus impactos ambientais e sociais, com perda de cobertura florestal e deslocamento das famílias tradicionais indígenas. Eu passei por lá para almoçar no Restaurante do Mirandinha, que tem um ótimo sabor caseiro.
Falando em comida, vale a pena passar em alguma das lanchonetes da cidade ou nas estradas, como o Café Regional da Vivian. Ali eu provei o famoso caboquinho, um sanduíche tradicional amazonense recheado de queijo coalho, banana pacovã madura, servida frita, e lascas de tucumã. Essa fruta tem uma cor intensa e é bastante saborosa, sendo bastante usada na gastronomia local.
Em outro dia de passeio, segui para a Cachoeira da Iracema, que chama a atenção pela grandiosidade de sua queda d’água. Dos pontos que visitei, ela possui a estrutura mais completa, contando até mesmo com um bar e mesas às suas margens. Com isso, acaba sendo também a mais visitada, tanto por viajantes quanto por moradores da região. A dica aqui é evitar finais de semana e feriados prolongados. Assim, dá para pegar os atrativos mais vazios.
Quando eu cheguei na Lagoa Cristalina, por exemplo, não tinha absolutamente mais nenhuma pessoa. Como o próprio nome diz, as águas são transparentes e até enganam à primeira vista, pois são bem mais profundas do que parecem. O banho é limitado a vinte minutos e há algumas recomendações como não pular, o que movimentaria a areia e a tornaria mais turva.
Além da lagoa, esse espaço conta com um igarapé que chama a atenção pelas suas cores intensas, adquiridas devido à decomposição das folhas das árvores. O Rio Vermelho rende boas fotos, principalmente quando tem sol e a incidência da luz na água deixa o tom mais vivo. Eu aproveitei para tomar mais um banho ali – nunca é demais se refrescar nas águas de temperatura gostosa dessa região.
Em outro dia, fui até a Cachoeira Natal, que é menos visitada porque tem o acesso um pouco mais complicado. Para chegar até lá, é preciso passar por estrada de terra, o que dificulta a ida com carros pequenos. O diferencial ali é a largura da queda, que ultrapassa os cinquenta metros. Além disso, o poço é raso, com a água batendo na cintura. O ideal é ir na época de seca, pois a correnteza fica mais fraca e o banho mais agradável. Ali também há uma área de camping, para quem gosta de se aventurar na natureza.
Como eu queria mais conforto, fiquei no centro de Presidente Figueiredo mesmo. Embora a parte urbana não seja particularmente bonita, ali tem toda a estrutura para uma estadia mais tranquila. Alguns dos atrativos visitados possuem restaurantes na entrada, por exemplo, mas a maioria das minhas refeições foi feita na cidade. Como exemplo, posso citar o buffet livre e diversificado da Anauê Churrascaria e Pizzaria.
Também comi um dia no Canto da Brasa, onde foi servido um belo e saboroso peixe assado. De modo geral, as opções gastronômicas que encontrei por lá foram mais simples, o que faz sentido para a cidade do interior que ainda não recebe tantos turistas como outros destinos da região. Eu achei interessante experimentar os pratos típicos amazonenses. Na Genovese Gelateria, por exemplo, aproveitei para pedir uma bola sorvete de fruta local. Em outra ocasião, passei por lá e comi um pedaço de banoffee pie, receita de torta com banana que foi criada pelos ingleses e se popularizou mais recentemente em nosso país.
A cidade tem se destacado como um novo destino turístico e ganhado mais estrutura para receber os visitantes, valendo a pena reservar uma hospedagem por alguns dias. Já existem apartamentos, casas de temporada, albergues e outros espaços disponíveis, mas ainda não são muitas opções e não se encontra nada muito sofisticado. Na região central, um dos espaços mais procurados é o Hostel da Milla.
Para quem vai contratar um guia para orientar todo o passeio, recomendo informar os objetivos e quem vai fazer parte do grupo. Alguns lugares são bem voltados para famílias, como a Cachoeira da Asframa. Já para quem vai por conta própria, é preciso dar uma olhada com atenção ao mapa de atrativos para traçar o melhor roteiro. Eu recomendo alugar um carro para chegar aos atrativos, alguns a dezenas de quilômetros de distância do centro. Um bom planejamento ajuda a otimizar a visita, reunindo os mais próximos em um dia só.
Ao todo, passei quatro dias em Presidente Figueiredo e foi o suficiente para visitar uma boa diversidade de atrativos, entre cachoeiras, lagoas, rios, grutas e cavernas. Alguns são de fácil acesso, enquanto outros exigem percorrer trilhas e devem agradar aos mais aventureiros. Vale a pena pesquisar com antecedência para definir melhor o roteiro, levando em conta que alguns são mais adequados para a estação chuvosa, enquanto outros ficam melhores na estação seca. De todo modo, em qualquer época do ano vai ter muito lugar bonito para conhecer.
Viajento 