Japanese Garden

Houston – Japanese Garden

Os jardins japoneses (日本庭園 nihon teien) acompanham os ideais filosóficos e a estética da cultura do país, evitando a ornamentação artificial e destacando a paisagem natural. Por isso o contraste entre os jardins ocidentais e os japoneses é tão profundo. Enquanto os primeiros buscam um apelo visual, os orientais projetam o ambiente buscando uma conexão espiritual e filosófica com a natureza. O uso de plantas e materiais envelhecidos nesses locais sugere um ambiente antigo e expressam a fragilidade da existência e a impossibilidade de parar o tempo. Em Houston, é possível visitar um desses jardins dentro do Hermann Park. A entrada é gratuita e os horários de funcionamento e outras informações podem ser encontrados na página oficial.

Ambiente agradável do jardim
Ambiente agradável do jardim

Esse jardim foi construído em 1992 sob a direção do arquiteto Ken Nakajima. O desafio maior era projetar um espaço no estilo japonês inserido em um parque com pinheiros e carvalhos em volta, criando um reduto de serenidade e meditação através do uso de rochas e pedregulhos, água corrente e plantas. Renovações aconteceram posteriormente seguindo o projeto do arquiteto paisagista Terunobu Nakai. A entrada principal do jardim fica próxima ao Pioneer Memorial Obelisk e se dá por um Nagaya-Mon, ou portal. Uma lanterna esculpida em granito, presente da cidade de Chiba, dá boas vindas aos visitantes. Há três lanternas de pedra, ishi-doro, espalhadas no jardim.

Pérgola com vista para lago
Pérgola com vista para lago

A pérgola, estrutura coberta de vegetação que cria um espaço com sombras, é um ótimo lugar para se sentar e relaxar em frente ao lago. É possível pensar nas pedras que emergem das águas como barcos que se orientam pela lanterna. Eu fiquei um bom tempo descansando ali, observando as carpas coloridas e tartarugas que habitam o lago. O uso de peixes, particularmente as carpas e os peixes-dourados, como um elemento decorativo tem sua origem nos jardins chineses. O koi, ou carpa colorida, se originou da carpa comum no Japão dos anos 1920 através de uma seleção artificial. Não se trata de uma espécie diferente, pois elas voltariam à coloração original em algumas gerações caso se reproduzissem livremente.

Corredeira de água
Corredeira de água

Em jardins tradicionais japoneses, os lagos e corredeiras devem ser colocadas segundo orientações budistas, cuja arte e ciência buscam atrair boa sorte. As regras para o espaço das águas foram determinadas no primeiro livro japonês sobre jardins chamado Sakuteiki, no século XI. De acordo com a obra, a água deve fluir a partir do leste ou sudeste e correr para o oeste, uma vez que o leste é a casa do Dragão Verde (seiryu), uma divindade chinesa adotada pelo Japão, e o oeste é a casa do Dragão Branco. Com a água correndo nessa direção, o mal será levado para longe e o proprietário do local terá uma vida longa e saudável. Outra opção é ir do norte para o sul, da água para o fogo, yin e yang. As cascatas ou cachoeiras também são elementos importantes nesses jardins. Se possível, elas devem estar voltadas para a lua, o que permite o seu reflexo nas águas. Aqui ela foi feita com granito rosa do Texas e faz um barulho agradável de água corrente que lembra o derretimento da neve em um córrego de montanha.

Ponte de madeira
Ponte de madeira

O jardim possui diversas pontes sobre os córregos e o lago. Esse elemento simboliza um caminho para o paraíso e a imortalidade, podendo ser feito de pedra, madeira ou troncos cortados com terra e musgos em cima, arqueados ou retos. Em alguns casos, se o jardim fizesse parte de um templo, a estrutura seria pintada de vermelho, seguindo a tradição chinesa. Na maioria das vezes, entretanto, elas eram deixadas como as vistas aqui, sem nenhuma tinta.

Árvores em floração
Árvores em floração

Nada nesses jardins é deixado ao acaso. Cada planta é escolhida de acordo com princípios estéticos, seja para esconder vistas indesejada, seja para servir como fundo para os elementos do jardim, criando uma cena que imita uma pintura. As árvores são elegidas cuidadosamente pelas suas cores de outono e os musgos são usados para sugerir uma idade superior.  As flores são definidas de acordo com as suas estações de floração. Na subida de uma pequena ladeira foram plantadas murtas, árvores que, no verão, dão flores rosas como as cerejeiras. Essas árvores, originárias da China e do Japão, são comuns em Houston. A preocupação foi focar a vegetação utilizada no local para refletir os autênticos jardins japoneses, mas sendo adequadas ao clima da cidade.

Árvores frutíferas
Árvores frutíferas

As árvores precisam ser constantemente podadas para prevenir que seus galhos bloqueiem as vistas de maneira indesejada. O crescimento também é controlado através de uma técnica chamada niwaki, que lhes confere formas pitorescas e dão uma aparência de idade avançada. Também podem ser forçadas a se dobrar em determinadas direções para prover sombra e serem refletidas de maneira adequada nas águas. Em 2012, cerejeiras foram plantadas no local para comemorar as árvores dadas de presente pelo Japão para os Estados Unidos há cem anos atrás. Além delas, é possível ver murtas, azaleias, bordos, cornisos, abricoteiro, flores-de-lotus, oliveiras, glinícias, camélias, bambus e outras.

Bacia d'água e lanterna
Bacia d’água e lanterna

Outro atrativo do local é a casa de chás. Antes de entrar para presenciar a tradicional cerimônia do chá, os convidados caminham por uma trilha de largas pedras que são molhadas pelo anfitrião para parecerem umedecidas pelo orvalho da manhã. Em japonês, esse trajeto é conhecido como roji. O tsukubai, um recipiente com água, é utilizado para se purificar antes de entrar na casa. A bacia é abastecida por canos de bambu chamados kakei e também há uma concha de madeira usada para beber a água.

Casa de chás
Casa de chás

Essa casa de chás foi doada pelo Japão por iniciativa do ex-Primeiro Ministro Kaifu, que visitou a cidade em 1990, tendo sido construída lá com vigas de cipreste e remontada no local por artesãos japoneses. Chamada de hinoki, essa madeira lisa é um importante elemento da construção tradicional no país. Na parte interna, vigas cruzadas feitas com madeira de cedro vermelha suportam o teto. As árvores, chamadas por lá de kitayama-sugi, são cuidadosamente cultivadas para que não se formem nós. Toda a estrutura é feita sem o uso de pegros. Perto da casa há duas pedras e quando se posiciona corretamente entre elas e a casa de chá está aberta, é possível ver a cachoeira e pinheiros distantes emoldurados, o que lembra o ukiyoe, pintura japonesa feita com blocos de madeira. É importante notar que a casa foi instalada e, em sequência, a paisagem foi criada à sua volta.

Lago com carpas coloridas
Lago com carpas coloridas

No meio da movimentada quarta maior cidade dos Estados Unidos, esse jardim oferece um refúgio de paz e sossego para a população e os visitantes. É recomendado que a visita seja feita com a calma necessária para apreciar todo o trabalho feito no local, que visa uma conexão espiritual com a natureza, e se respeite o silêncio adequado para o ambiente.

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