Centro histórico de Lucerna

Lucerna – Passeio pelo centro histórico

A Suíça, como um todo, está bem representada pela cidade de Lucerna e o seu entorno. Ali é possível visitar construções medievais, um grande lago e as montanhas alpinas. A diversidade é tanta que você é constantemente transportado da vida antiga para os tempos atuais, visitando partes mais históricas, caminhando perto do lago ou fazendo um passeio de barco, vendo lojas e outros prédios modernos ou se deliciando com as opções gastronômicas às margens do rio Reuss.

Antiga entrada da estação
Luzern Bahnhof

Não existe um caminho muito definido para fazer o tour pelo centro histórico. Na verdade, há tanta coisa para ver que acontece um certo vai-e-vem para passar nos pontos mais interessantes. Uma possibilidade bastante válida é começar pela Luzern Bahnhof, que é a estação central de trem da cidade, também ligada a uma parada final de vários ônibus e a um dos portos de onde sai o passeio de barco pelo lago. Como é um hub com várias opções de transporte, é muito fácil chegar lá. Além disso, funciona bem se você estiver fazendo apenas um bate e volta na cidade.

Prédio em estilo neoclássico
Prédio em estilo neoclássico

Para quem gosta de passeios culturais, pertinho da estação fica a Sammlung Rosengart, que é um museu de arte focado nos trabalhos de Pablo Picasso, Paul Klee e outros artistas renomados do modernismo clássico. Trata-se de uma coleção particular da família Rosengart, que negociava obras de arte e tinham um relacionamento de amizade com algumas dessas personalidades.

A cozinha é aberta
Pastarazzi

Em um dos dias que passei pelo centro, almocei nesse restaurante italiano especializado em raviólis com recheios variados. O Pastarazzi tem um ambiente agradável e trabalha com massas frescas. Achei a comida uma delícia e os preços são justos. Vale a pena anotar o nome e a localização.

Franziskanerkirche
Franziskanerkirche

Ali pertinho fica a Franziskanerkirche, uma igreja construída pelos irmãos da ordem franciscana. As primeiras partes do convento e da igreja foram erguidas no início do século XIII e, naquela época, ainda ficavam do lado de fora da cidade. Por um bom tempo, o local foi usado para eventos funerários, uma vez que o cemitério ficava muito distante para os moradores da cidade. Com isso, os cidadãos mais influentes compraram espaços de sepultamento na igreja do mosteiro, no claustro externo e no jardim.

Bandeiras na nave principal da Franziskanerkirche
Bandeiras na nave principal da Franziskanerkirche

Com o decorrer dos anos, muito da estrutura foi modificada. A maior parte do interior que vemos atualmente, por exemplo, data de uma grande renovação realizada no século XVI. As bandeiras pintadas na nave principal representam a Batalha de Sempach, das quais Lucerna saiu vitoriosa. Elas substituíram as originais, que foram tiradas dos inimigos durante os conflitos e expostas no local mas, com o tempo, acabaram estragando. Um trabalho de renovação da estrutura da igreja foi realizado entre 1988 e 1989, incluindo investigações arqueológicas, então está tudo bem conservado. Achei bem interessante a parte interna pelo estilo medieval.

Ritterscher Palast
Ritterscher Palast

Outra construção que se destaca é o Ritterscher Palast, encomendado pelo ex-prefeito Lux Ritter, em 1556. Na época, Lucerna não tinha mais do que 5.000 habitantes e a maioria das casas era de madeira. O estilo renascentista florentino já era usado há cerca de um século em Florença, mas era uma novidade nessa região. Com a morte de Ritter antes da conclusão, a construção ficou sob o comando da cidade e acabou sendo doada para a religião católica. Já no século XIX, voltou a pertencer ao Cantão de Lucerna e pode ser visitado de segunda a sexta-feira.

Jesuitenkirche vista do rio Reuss
Jesuitenkirche vista do rio Reuss

Coladinho no palácio está a Jesuitenkirche, a primeira igreja barroca na Suíça, erguida de 1666 a 1677. O melhor para ver a fachada é ficar do outro lado do rio ou em uma das pontes – a foto acima foi tirada da Rathaussteg. Não se sabe exatamente de quem é o projeto arquitetônico mas pelo menos os desenhos das capelas laterais em estuque são do padre jesuíta Heinrich Mayer. Já as torres, que se destacam na fachada, foram construídas em 1893 por Heinrich Viktor von Segesse.

Interior da Jesuitenkirche
Interior da Jesuitenkirche

Assim como as outras igrejas da região, você pode entrar e fazer a visita gratuitamente. A parte interna se destaca pelas paredes brancas e pinturas pontuais. O estilo me lembrou bastante a Stiftskirche, a catedral da abadia de St. Gallen, embora aquela tivesse no teto pinturas mais escuras.

A obra que fica no altar mor foi criada pelo artista Domenico Torriani de Mendrisio entre 1667 e 1673. Outra coisa que chama bastante a atenção é o órgão no fundo da igreja.

A ponte da capela
A ponte da capela

Dali se pode voltar um pouco para atravessar o rio Reuss pela Kapellbrücke, a mais famosa das pontes dessa região. O nome é uma referência a uma capela católica que fica na outra margem do rio. A ponte da capela é facilmente identificável por ser toda de madeira e possuir uma grande torre de pedra, a Wasserturm. Mas vê-la de umas das margens não é o suficiente, pois um dos seus grandes destaques são as obras de arte do século XVI penduradas sob seu teto. Ali está representada a história da cidade em uma perspectiva católica, uma tentativa de frear o avanço do protestantismo.

Peterskapelle
Peterskapelle

Ao dar a volta pela St. Peterskapelle, você ira passar pela Kapellplatz. Embora tenha sido construída em 1918, sendo bastante nova se comparada à maioria dos atrativos do centro histórico, vale a pena dar uma olhada com mais atenção à Fritschibrunnen. Essa fonte foi feita em um estilo renascentista bem mais antigo, que trazia figuras centrais alegóricas e coloridas. Exemplos de outras fontes nesse estilo podem ser encontrados em todas as grandes cidades da Suíça, particularmente no centro histórico de Berna.

Fritschibrunnen
Fritschibrunnen

A lenda do Irmão Fritschi tem papel importante na história do carnaval de Lucerna. Supostamente, seu corpo está enterrado embaixo dessa fonte, onde ficava o antigo cemitério ao lado da capela. Mas ninguém sabe sequer realmente quem teria sido o tal cara. A lenda vem de, pelo menos, 1450 e a explicação mais aceita é de que se tratava de um brincalhão fazendeiro que vivia fora da cidade. Cysat, um cronista e funcionário da cidade na época medieval, escreveu que Fritschi teria feito doações de dinheiro para a guilda Safran com a condição de que fosse servido vinho para os pobres durante o carnaval. O costume continua até os dias de hoje e bonecos representando-o fazem parte dos desfiles.

Altes Rathaus e Kornschütte
Altes Rathaus e Kornschütte

Depois eu recomendo fazer uma caminhada à beira do rio pela Rathausquai. Quando eu passei por lá, estava rolando uma feirinha ao ar livre com produtos orgânicos, embutidos, massas frescas, flores, artesanatos e outras coisas. O boulevard da margem direita tem esse nome porque passa pelo antigo prédio da prefeitura, a Altes Rathaus. O edifício foi construído entre 1602 e 1606 por Anton Isenmann em estilo renascentista italiano. Quando você dá a volta até o lado de trás, pode ver também a torre do Kornshütte, que abrigava departamentos públicos e, atualmente, é usada como espaço para exposição de obras de arte.

Edificações da Kornmarkt
Edificações da Kornmarkt

A prefeitura fica em uma antiga praça chamada Kornmarkt. O local, mencionado pela primeira vez em 1356, foi onde funcionou o mercado da cidade até o século XIX. O andar térreo da Rathaus, com seus grandes arcos, servia como armazém de grãos. É possível ver em volta da praça vários prédios antigos, alguns com pinturas nas fachadas. Outro atrativo é o Am-Rhyn-Haus, construído pelo prefeito Walter am Rhyn. Ali funciona outro famoso museu dedicado às obras de Pablo Picasso.

Ambiente interno do restaurante
Ambiente interno do restaurante

Essa região também é cheia de lojas de todos os tipos e é bastante movimentada, tipo centro de cidade grande mesmo. Eu não tinha a menor intenção de fazer compras na Suíça, mesmo porque é um país bastante caro, mas aproveitei que estava na área para ir ao Manora Restaurant, que fica no terraço da loja de departamentos Manor. O estabelecimento funciona como um bandejão, tem comida gostosa e o preço vale a pena, então é mais uma dica de onde almoçar nessa área.

Pinturas nas fachadas da Hirschenplatz
Pinturas nas fachadas da Hirschenplatz

Outra praça que chama a atenção pelas suas fachadas com pinturas é a Hirschenplatz. Ali perto fica o Hirschenplatz Apartments, que é uma boa opção para quem quer alugar acomodações confortáveis com cozinha completa e ficar hospedado no miolinho do centro histórico da cidade.

Os desenhos das fachadas das casas da praça são homenagens a pessoas ou entidades que serviam como protetores da população. O prédio da esquerda, por exemplo, mostra a batalha de Dornach, em 1499 – a última travada entre a Alemanha e a Suíça. Já na direita, funcionava uma joalheria, então as pinturas serviam ao mesmo tempo como decoração e propaganda, mostrando anjos segurando anéis.

Fonte da Weinmarkt
Fonte da Weinmarkt

Apenas um quarteirão depois, outro local chama a atenção pelas pinturas nas fachadas. A Weinmarkt, ou praça do vinho, recebe todas as manhãs de terças e sábados uma feira a céu aberto. Um dos destaques da praça é a fonte de St. Maurice, que apresenta seis guerreiros na base.

Como é muito fácil passar por outras ruas e acabar perdendo a oportunidade de visitar esses locais, eu recomendo que vocês consultem o mapa turístico da cidade.

Hotel de Balances
Hotel de Balances

As casas em volta dessa praça eram sedes de diversas guildas. Em um dos lados fica o Hotel des Balances, cujas pinturas mostram a busca pela justiça. Além da localização maravilhosa, você pode ficar em quartos com vista para a cidade ou para o rio. Uma coisa que eu achei legal é que eles têm quartos individuais. Não era o meu caso, já que eu estava viajando com mais três companheiros. Seja como for, essa hospedagem é mais cara, o que é justificado pela localização e pelo estilo refinado do local.

A barragem é feita com tiras de madeira
A barragem é feita com tiras de madeira

Falando em vista para o rio, esse é um bom ponto para fazer a travessia novamente, dessa vez pela Reussbrücke. Ali as águas ficam mais agitadas devido ao represamento artificial feito com finas tiras de madeira, uma técnica tradicional que é pouco usada atualmente. A Nadelwehr serve para desviar parte do curso do rio para a usina hidrelétrica.

Para quem gosta de visitar museus, o local também tem o Historisches Museum Luzern e o Natur-Museum Kanton Luzern, respectivamente os museus da história da cidade e de ciências naturais.

Spreuerbrücke é uma ponte sobre o rio Reuss
Spreuerbrücke é uma ponte sobre o rio Reuss

O destaque, entretanto, fica para mais uma estrutura medieval de madeira. Embora a Spreuerbrücke seja menos famosa, ela não fica devendo em nada para a ponte da capela. A primeira ponte construída nesse local, datada do século XIII, conectava um moinho na margem direita do Reuss com outros no meio do rio. A continuação da passagem até a margem esquerda só seria concluída no ano de 1408, mas foi, em grande parte, destruída durante uma inundação no século seguinte. Por isso a ponte atual é datada do século XIV.

Painéis representam a Dança da Morte
Painéis representam a Dança da Morte

Como atrativos, ela possui um pequeno oratório dedicado a Maria, mãe de Jesus, e as pinturas antigas também dispostas junto ao teto, como na Kapellbrücke. No caso dessa ponte, o tema retratado é a Dança Macabra, uma alegoria medieval que mostra que todos são iguais perante a morte. Ali podem ser vistos representantes das diversas classes sociais dançando junto ao túmulo. As origens desse estilo estão em sermões ilustrados, sendo que o primeiro de que se tem registro era um mural agora perdido de um cemitério em Paris, datado de 1424 a 1425.

Usina hidrelétrica no rio Reuss
Usina hidrelétrica no rio Reuss

Desde a Idade Média, os moinhos instalados em ilhas artificiais ao longo do rio geravam força através das correntes de água. Depois do incêndio que destruiu boa parte dessas estruturas em 1875, a cooperativa dos comerciantes optou pela construção de uma usina hidrelétrica de três turbinas. Após quase 90 anos de operação, os constantes problemas causados pelo envelhecimento da estrutura ocasionaram o seu fechamento por motivos de segurança, em 1977. Entre 1996 e 1998, uma nova usina foi construída, dessa vez contando com duas turbinas. A estrutura antiga pode ser vista em um museu no mesmo local.

Vista do terraço da Männliturm
Vista do terraço da Männliturm

Dali, é possível continuar a caminhada até o início do passeio pela Museggmauer, que é a muralha medieval que servia como proteção militar da cidade. Esse passeio, que fica aberto somente durante os meses quentes, de abril a novembro, permite ter uma visão privilegiada da cidade e de toda a região. Também é permitido entrar e subir em quatro das nove torres que fazem parte da fortaleza.

Gletschergarten
Gletschergarten

Outra atração que também merece ser visitada, embora fique um pouco mais afastada da maioria dos atrativos do centro histórico, é o Gletschergarten. Trata-se de um sítio arqueológico descoberto durante as escavações para a construção de uma adega. Ali estão testemunhos de 20 milhões de anos de transformações geológicas, um museu com enfoque na geografia, no clima e na vida animal, uma típica casa suíça toda mobiliada, uma torre panorâmica em um belo jardim e uma casa de espelhos. Sem dúvida um dos passeios mais interessantes e completos da cidade.

Monumento do Leão
Monumento do Leão

Logo abaixo do jardim glacial fica uma escultura que é o símbolo mais emblemático de Lucerna e, provavelmente, seu atrativo turístico mais famoso. O Löwendenkmal, também chamado de monumento do leão, é uma escultura feita entre os anos de 1820 e 1821. A obra homenageia as tropas suíças que protegiam o rei francês e foram dizimadas durante a revolução no país. O animal aparece morto por uma lança e caído sobre um escudo com a flor-de-lis, símbolo da monarquia francesa. Ao seu lado, um outro escudo é decorado com o brasão suíço.

Depois desse passeio, desci novamente em direção ao rio. No caminho, passei pelo Alpineum Museum e pelo Panorama Luzern, mas não entrei por falta de tempo.

Altar da Hofkirche St. Leodegar
Altar da Hofkirche St. Leodegar

Mas visitei a Hofkirche St. Leodegar, uma igreja católica romana construída entre os anos de 1633 e 1639 sobre a estrutura de uma basílica antiga que foi destruída por um incêndio. Essa foi uma das poucas igrejas construídas ao norte dos Alpes Suíços durante a Guerra dos 30 Anos e possui uma das maiores e mais ricas coleções de arte do período renascentista germânico.

Acredito que isso sintetiza a maioria dos lugares por onde passei no centro histórico da cidade. O mapa interativo abaixo mostra os pontos citados. É possível aproximar para ver mais detalhes, bem como afastar para ter uma noção da distância de outros passeios feitos na região e da localização do HITrental Allmend Comfort Apartments, onde fiquei hospedado.

Se você achou que eu citei muitos lugares e que ficaria cansativo fazer tudo isso em um dia só, você tem razão. Na verdade, eu fiz esse passeio pelo centro histórico da cidade em dois dias. No primeiro estava caindo uma chuvinha fina e eu acabei focando um pouco mais nos museus e os interiores das igrejas. Depois, voltei para aproveitar melhor as partes externas, incluindo o passeio pelas pontes do rio e pela muralha medieval.

3 comentários

Deixe uma resposta